Jamais me esquecerei dessa data: 4 de dezembro de 1991. Depois de um voo saindo de Frankfurt, à 6 horas, que durou cerca de 11 horas no relógio, mas no fuso horário cheguei em Miami ao meio dia ou seja, “somente “ seis horas depois. Dali eu seguiria, pela Pan Am, para Washington DC, cidade que adoro, onde passaria parte das minhas férias, ao lado de cinco amigos que moravam lá, todos jornalistas.
Peguei minha bagagem e segui para o terminal da Pan Am, a maior empresa aérea dos EUA que tinha lá seu próprio terminal, como tinha também no aeroporto Kennedy em Nova Iorque.
Foi um espanto: o local vazio. Nenhuma fila, ninguém nos balcões. Parecia cena de filme de fim do mundo, sem nada ninguém nem ninguém.
Dirigi-me a um balcão de informações e perguntei o que havia acontecido.
– A Pan Am não existe mais, foi fechada. Perguntei se alguma outra empresa estava aceitando passageiros dela.
– Não!
E lá fui eu entrar em contato com a empresa onde trabalhava no Brasil. Graças ao pessoal da agência que nos atendia, em três horas estava embarcando para a capital dos EUA, ao encontro dos amigos.
Cuidado nos cruzamentos
Lá chegando, meu amigo Nando (Luiz Fernando Silva Pinto) colocou seu Mitsubishi Montero, para que eu me movimentar por lá. E fez duas advertências: quando chegar a um cruzamento, lembre-se que passa um carro por vez. Se você está em uma fila, e chegou ao primeiro lugar dela, deixe passar o carro que está em primeiro lugar da fila que está no cruzamento. Ai você entra (D ou E) ou atravessa.
E, quando ver a placa de PARE, pare mesmo, não apenas diminua a velocidade, como se faz no Brasil.
Acho que rodei um 150 km por Washington, sempre parando mesmo e respeitando as filas. Em determinado momento, tive que abastecer. E por lá, dificilmente você encontra um frentista. É tudo no self-service, Você, abre a tampa do tanque, coloque o bico da mangueira no bocal, coloca o cartão de crédito, digita o quanto quer de combustível e pronto.
Assim como abre a tampa do tanque, desenrosca a tampa, faz o movimento inverso quando tudo termina. Pois é, eu esqueci de pegar a tampa de rosca. Só me lembrei disso já distante dali. Parei em outro posto, fui até a loja de conveniência e expus me drama ao gerente.
Gentil, ele me trouxe três ou quatro tampas de rosca e fomos lá experimentar qual delas( elas não tinham identificação) serviria no “Montero”. Logo a primeira, ajustou-se perfeitamente. Quando lhe perguntei quanto custava a peça, el disse que nada, pois eram de pessoas que, como eu, haviam saído sem colocar a tampa no seus carros.

Não mexa com as crianças
As crianças sempre me fazem um bem incrível. Olhar para elas me faz crer que o Mundo ainda tem chances. Talvez seja por isso que já escrevi cinco livros para elas. Só consegui publicar três deles, mas torço para conseguir editar dois pronto e mais dois que estão no meu pensamento.
Pois bem, esse carinho que tenho pelas crianças quase me meteu em confusão em um supermercado em Bethesda (cidade a noroeste de Washington DC). Em um determinado corredor, vi uma criança, com cerca de 5 ou 6 anos, sentada no chão brincando com um carrinho.
Fiz uma careta para ela que, imediatamente levantou-se, saiu correndo, deixando lá seu brinquedo no chão. Foi a frase, que me veio à cabeça, da minha amiga Regina, mulher do José Meirelles Passos (que já nos deixou), querido amigo/irmão, correspondente de o Globo na Casa Branca. Companheiro de longas jornadas a “bordo” de Jackie Daniel’s.
Pedi aos Céus uma luz para me livrar daquele “crime” e continuei minhas compras. Foi quando minha boa visão periférica me salvou. Avistei uma moça me olhando e, imediatamente, Os Céus, que haviam me ouvido, gritaram: faça a mesma careta para a prateleira.
E eu fiz, por muitas outras vezes, até que a mulher pegou o filho pela mão e me mostrou para ele, com certeza dizendo: ela não mexeu com você, ele tem um cacoete.
E não os vi mais.
Porém, continuei fazendo careta para as prateleiras, no caixa, e até mesmo já dentro do Montero. Só me livre dele já em casa dos amigos.
A volta de Transabrasil
Por essas coincidências da vida, após meu período de férias com os amigos, voltei para o Brasil de Transbrasil, que estabelecera uma linha, que voava direto, sem escalassem Miami, como as demais, do Dulles (aeroporto internacional de Washington) para Cumbica, em Guarulhos, SP.
A coincidência é que a Transbrasil encerrou suas atividades 10 anos depois, exatamente como a Pan Am, que me deixou no chão, em Miami, anos antes. Por problemas financeiros.
Sobre Washington
Conheço poucas pessoas que estiveram em Washington DC. É uma bela cidade, desenhada pelo arquiteto engenheiro militar Pierre Charles L’Enfant, em 1791. Seu plano era inspirado nas grandes cidade europeias, como Paris, incluindo largas avenidas e diagonais sobrepostas em padrão quadriculado de ruas, grande praças públicas e espaço abertos como o National Mall.
A cidade abriga pelo menos 20 museus gratuitos, entre eles os da Smithsoniam Institution.
Uma pena que o museu dedicado à Imprensa, o Newseum fechou permanentemente, por razões financeiras. Diariamente ele exibia a primeira página de jornais do mundo inteiro. E tinha salas para estudantes gravarem programas de TV e rádio e mini redações. Ele segue online (Newseum.com) para mostrar aos jovens a importância da Imprensa.
Destaque para A Parede (The Wall), com duas longas pareces de granito negro, em forma de “V”, onde estão gravados 58 mil nomes, em ordem cronológica de sua morte, de combatentes da Guerra do Vietnã. Há, ao lado um monumento com as estátuas de duas mulheres, em homenagem às enfermeiras que cuidaram dos soldados durante o conflito.

