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| Ao lançar o Cayenne Elétrico, a Porsche não estará apenas introduzindo mais uma linha de modelos totalmente elétricos no mercado — estará também transferindo para a produção em série uma tecnologia diretamente derivada do automobilismo. Diversas inovações têm origem direta nos desenvolvimentos da Fórmula E, categoria na qual a Porsche é a atual campeã mundial tanto entre as Equipes quanto entre os Construtores. Com o Cayenne Elétrico, o fabricante de carros esportivos demonstra que o seu caminho rumo a uma mobilidade mais sustentável não começa na prancheta, mas nas pistas de corrida. |
“A Fórmula E é o nosso laboratório de desenvolvimento para a mobilidade elétrica do futuro. É nela que obtemos valiosos aprendizados para os nossos carros esportivos de rua”, afirma o Dr. Michael Steiner, membro do Conselho Executivo responsável por Pesquisa e Desenvolvimento. “O novo Cayenne Elétrico demonstra a rapidez com que esse tipo de transferência tecnológica acontece na Porsche — e o quanto o nosso envolvimento na categoria elétrica é relevante para a produção em série.”
“Na Fórmula E, eficiência é o que separa a vitória da derrota. Esse mesmo princípio também orienta o desenvolvimento do Cayenne Elétrico”, explica Florian Modlinger, Diretor do Programa de Automobilismo para a Fórmula E e chefe da equipe oficial da Porsche na categoria. “A eficiência não está apenas no foco técnico dos veículos em si; os métodos de trabalho ágeis também contribuem para reduzir o tempo de desenvolvimento e acelerar a transferência de tecnologia.”
Os chefes das áreas de motorsport e de desenvolvimento de produção em série trabalham lado a lado em Weissach, o que favorece o intercâmbio de conhecimento entre os projetos. O que é testado nas pistas inspira o que acontece na linha de produção — e o inverso também é verdadeiro: o carro de corrida, por vezes, aprende com o modelo de rua. O carregamento é, provavelmente, o exemplo mais evidente dessa transferência tecnológica: as tomadas e os conectores do carro de corrida Porsche 99X Electric e dos carros esportivos elétricos da Porsche são idênticos. A tecnologia CCS (Combined Charging System), não é apenas o padrão adotado para carregamento em vias públicas, mas também na própria Fórmula E.
Resfriamento direto para máxima eficiência e design compacto
Um exemplo marcante de transferência de tecnologia do automobilismo para a produção em série é o resfriamento direto a óleo. Nesse sistema, todos os componentes condutores de corrente do conjunto de propulsão elétrica são resfriados diretamente por um líquido especialmente desenvolvido, o que melhora significativamente a eficiência e garante desempenho contínuo e sustentado. A Porsche vem utilizando essa tecnologia inovadora na Fórmula E desde o início do projeto — com um grau de integração cada vez maior. A partir de 2023, o veículo de testes GT4 e-Performance também passou a adotar o resfriamento direto a óleo nas pistas. Agora, essa solução chega à produção em série, aplicada ao motor traseiro do Cayenne Elétrico topo de linha.
Enquanto, nos motores elétricos convencionais, o fluido de arrefecimento circula por uma capa externa ao redor do estator, no resfriamento direto o líquido flui diretamente ao longo dos condutores de cobre, por meio de canais integrados ao próprio estator. Isso permite que o calor seja dissipado exatamente no ponto em que é gerado. Para alcançar os mesmos níveis de eficiência e desempenho, um motor resfriado por capa d’água precisaria ser aproximadamente 1,5 vez maior. Graças ao sistema de resfriamento direto, foi possível adotar, no Cayenne, um projeto que proporciona eficiência de até 98%. Já a variante de competição do Porsche 99X Electric atinge um valor ainda mais elevado.
Potência de recuperação extremamente alta, de até 600 kW
A recuperação de energia aumenta significativamente a eficiência de ambos os veículos. A energia recuperada durante as frenagens é direcionada de volta para a bateria, podendo ser utilizada novamente para propulsão. Maior capacidade de recuperação, portanto, resulta em autonomia ampliada e, em última análise, em baterias menores — fator essencial para o desempenho tanto de carros esportivos quanto de competição. Na Fórmula E, a quantidade de energia disponível é deliberadamente limitada: o Porsche 99X Electric pode iniciar uma corrida com, no máximo, 38,5 kWh de energia utilizável na bateria. Se o carro recuperar mais energia nas frenagens do que seus concorrentes, ele passa a contar com uma reserva maior para atacar na reta final.
“O desafio da recuperação de energia é altamente complexo”, explica Florian Modlinger. “Durante a frenagem, queremos recuperar o máximo possível de energia enquanto reduzimos a velocidade no menor tempo possível. Dependendo da pressão exercida no pedal, também acionamos os freios das rodas dianteiras. O equilíbrio do carro deve corresponder às preferências do piloto — isso contribui para a confiança na condução e, consequentemente, para o desempenho. Em um carro de rua, essa dinâmica também está diretamente ligada à segurança ao dirigir. Para harmonizar todos esses fatores, diversas funções de software entram em ação durante a frenagem — um campo vasto para transferência de conhecimento entre as pistas e a estrada.”
Dependendo da velocidade, da temperatura e do nível de carga da bateria, o Cayenne é capaz de alcançar até 600 kW de potência de recuperação de energia, igualando o valor máximo obtido pelo Porsche 99X Electric. No SUV, a recuperação de alta performance também permanece ativa mesmo em condução dinâmica. Em situações de uso cotidiano, cerca de 97% das frenagens são realizadas de forma totalmente elétrica, sem a necessidade de auxílio dos freios mecânicos a disco. Conforme o tipo de manobra, a recuperação pode continuar até que o veículo pare completamente. Somente quando a desaceleração ultrapassa o limite da recuperação é que os freios de fricção nos eixos dianteiro e traseiro entram em ação — de maneira imperceptível para o condutor. Um equilíbrio perfeito entre eficiência e conforto de condução, inspirado diretamente no automobilismo.
Recarga ultrarrápida e processos de carregamento de alta performance
Desde a última temporada, a Fórmula E introduziu as paradas rápidas de recarga conhecidas como Pit Boosts. Um carregamento de 30 segundos, com potência de 600 kW, fornece à bateria do Porsche 99X Electric um incremento de energia de 10%. O Cayenne Elétrico também foi projetado para permitir “pit stops” de recarga ultrarrápida: são necessários menos de 16 minutos para elevar o estado de carga da bateria de 10% para 80%.
Não é apenas nas corridas que as temperaturas sobem. No uso cotidiano, elas também variam significativamente. A filosofia da Porsche é garantir altíssimo desempenho de recarga mesmo sob condições adversas e em uma ampla faixa de estado de carga (SoC). A potência de recarga DC do Cayenne Elétrico chega a 400 kW. A recarga ultrarrápida é possível a partir de uma temperatura da bateria de 15 °C. Até cerca de 55% de SoC, a potência de carregamento permanece acima de 350 kW — o que torna o processo extremamente robusto e eficiente. Em apenas 10 minutos de recarga, em uma estação compatível, é possível adicionar mais de 300 quilômetros de autonomia.
A Fórmula E também serve como um laboratório de testes e vitrine tecnológica para recarga ultrarrápida. “Os pilotos levam os carros ao limite — às vezes em cidades de calor escaldante, como Jacarta. Quando entramos nos boxes para recarregar, as temperaturas do sistema costumam estar muito elevadas”, explica Florian Modlinger. “Ao mesmo tempo, buscamos manter ao mínimo as demandas de arrefecimento do carro de corrida, já que o resfriamento consome energia e, dependendo do hardware, aumenta o peso. Por isso, durante as paradas de Pit Boost, demonstramos uma capacidade de fornecimento de energia com potência de recarga extremamente alta, mesmo sob condições extremas.”
Na Fórmula E, a Porsche direciona a maior parte do seu orçamento disponível para os componentes do veículo que também têm relevância para os modelos de produção em série. De acordo com o regulamento, esses componentes estão localizados sob a carroceria. Segundo Florian Modlinger, “nossos desafios técnicos não são visíveis externamente — mas são consideráveis e, em muitos aspectos, semelhantes aos que enfrentamos em nossos carros esportivos elétricos de rua.”

