Imagine você, nos anos 60, com o Plymouth novinho, emprestado pelo sogro, subindo pela Via Anchieta (não existia ainda a Imigrantes, só inaugurada em 1976. Ambas ligando Santos a São Paulo) com sua mulher e filhos, atrás de um caminhão, que saíra do Porto de Santos (o maior da América Latina) com carga total, de 20 t.
De repente, não mais que de repente, o caminhão à sua frente começa a andar, cada vez mais devagar e, com o trânsito carregado, você não consegue ultrapassá-lo. Ele para e, assustado, você vê que ele está voltando de ré.
Mas, não é que o motorista do caminhão tenha dado ré. Não! É que, com o chamado câmbio seco, sem marcha sincronizada (que não existia em todos os caminhões na época), ele começa a subida da serra em terceira marcha, reduzia no tempo para segunda, mas muitas vezes, não conseguia colocar a primeira. E, no tempo em que tentava colocar a primeira, o motor girava em falso e o caminhão começava a andar para trás, sem a menor chance do seu freio faze-lo parar.
Só restaria a você rezar para que o motorista do caminhão conseguisse jogá-lo na direção do barranco, para que não passasse por cima do carro xodó do “sogrão” que o seguia com sua família lá dentro.
Este texto é ficção, mas isso aconteceu várias vezes, nos anos 60, na subida da Via Anchieta, causando até algumas mortes, quando o motorista do caminhão não conseguia jogá-lo para cima do barranco da estrada-‘.
Na descida era ainda pior, porque ai não se tratava da ausência da marcha sincronizada, mas sim da desatenção do motorista que, erroneamente acreditava que o freio do veículo era capaz de segurar o “brutamontes” por todo o trecho da serra. Mesmo hoje, se o profissional não tomar cuidado, vai acabar em um barranco, atropelar outros veículos, inclusive outro caminhão e não apenas carros, ou jogá-lo para uma das rampas de escape que a Ecovias (concessionária do complexo Anchieta/Imigrantes) implantou na descida da serra em 2000. Hoje são duas, a primeira no km 49 e a segunda no 42,6 km, instalada em 2014.
E desde então, elas já evitaram mais de dois mil acidentes. São estrutura com argila expandida que permitem a parada completa de veículos pesados, como caminhões ou mesmo ônibus que apresentem problemas de freio, em poucos metros.
Imigrantes ou Anchieta?
Tem um posto na Anchieta, logo no seu começo, antes de Cubatão, onde é servido um bom comercial (almoço). Quando ainda morava na Baixada, parava lá para lá e aproveitava para conversar com os caminhoneiros. Perguntando qual estrada preferia, para subir a serra, Anchieta ou Imigrantes,
A resposta era a mesma de todos. Depende, segundo eles, do caminhão. Pois tem alguns que não conseguem vencer a inclinação permanente da Imigrantes e param no meio do caminho e o motor ”morre”. Esses têm que ir pela Anchieta, que tem alguns trechos planos que “ajudam” o motor do caminhão seguir em frente.
Os modelos mais modernos, com alta tecnologia não enfrentam qualquer problema para subir, tanto pela Imigrantes, como pela Anchieta.
Por que não descer pela Imigrantes?
Quando vemos muitos VUCs descendo, ou melhor voando pela descida da Imigrantes, que foi inaugurada em dezembro de 2002, andando muito acima dos 80 k/h permitidos (eles decoram a localização do radares e só ali diminuem), a gente se pergunta, por que caminhões e ônibus não podem usar a rodovia?
Por razões de segurança. Um estudo realizado pelo Departamento de Engenharia e Aeronáutica da Universidade da USP São Carlos, visando o comportamento do sistema de frenagem de caminhões e ônibus. O teste foi feito com cerca de 70 veículos pesando entre quatro e sete toneladas. E nele ficou provado que, pelo declive, cerca de 6%,da Imigrantes, haveria um grande risco de acidentes. A terceira pista da Imigrantes, anunciada pelo Governo do Estado, está projetada para declive máximo de 4%.
Beleza de vista
Mas, tanto pela Anchieta, quanto pela Imigrantes, a descida oferece uma beleza de paisagem. mostrando desde a Praia Grande até o Guarujá, incluindo a industrial Cubatão, com suas chaminés e a queima de gases que saem das chaminés da refinaria presidente Bernardes, da Petrobras. Essa chamas são resultados do sistema de “tocha” (flare), mecanismo de segurança que queima gases excessivamente tóxicos ou altamente inflamáveis.