MOTOCICLISMO – Beto Boettcher aposta: “Classic GP vai lotar o autódromo!”

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O goiano Roberto Boettcher foi um dos grandes nomes do motocross no Brasil, fez bonito quando correu na motovelocidade e hoje exercita suas habilidades como presidente da Federação de Motociclismo do Estado de Goiás (FMG). E, como goiano e como dirigente, é um dos grandes entusiastas da realização da etapa brasileira do International Classic Grand Prix (ICGP) em Goiânia. “Eu me sinto honrado e estou muito empolgado com esta prova. Dá para lotar o autódromo e parar a cidade!”, empolga-se.

A fala rápida não deixa dúvidas: a velocidade ainda corre no sangue de Roberto Boettcher. Goiano nascido em 1º de agosto de 1957, ele tem hoje objetivos tão ambiciosos quanto os da década de 1970, em que viveu seu auge no motocross. Boettcher disputou a temporada completa no Mundial da categoria 125 cm³ em 1977, algo que nenhum brasileiro havia feito antes – e nem voltaria a fazer depois. Uma trajetória mais do que suficiente para justificar sua inclusão entre os pilotos que serão homenageados por ocasião da etapa brasileira do International Classic Grand Prix.

Boettcher quer devolver ao motociclismo a condição de esporte de massas que já foi no Brasil, e que nunca deixou de ser na Europa e nos Estados Unidos. E faz uma declaração que surpreende a quem o conhece apenas pelo currículo esportivo: “Em todo o mundo, a velocidade no asfalto é a principal modalidade do motociclismo. Tem que ser assim no Brasil também. Quando isso acontecer, o cross, o enduro e as outras modalidades fora de estrada vão crescer junto”.

Boettcher fez sua primeira corrida no final de 1973. O autódromo de Goiânia seria inaugurado meses depois, em junho de 1974. Antes disso, corridas de carro e moto aconteciam em circuitos de rua na capital de Goiás e em outras cidades, como Anápolis. Durante algum tempo, o jovem piloto conciliou o cross, a motovelocidade (foi campeão goiano nas duas modalidades) e… o kart. Começou a se destacar nacionalmente ao terminar em terceiro lugar no Campeonato Brasileiro de Motocross, em 1974.

Em 1975, Boettcher se consagrou ao destronar o paranaense Nivanor Bernardi, então o grande nome do cross brasileiro, nas duas categorias (125 e 250 cm³). Foi o início de uma fase na qual o cross ganhou popularidade graças à rivalidade entre Boettcher, Nivanor e o gaúcho Pedro Bernardo Raimundo, o “Moronguinho”. Cada um tinha seu estilo: “O Morongo era muito rápido e técnico. O Nivanor ia na raça, tinha uma força fora do comum”, analisa Boettcher. Fora das pistas, os três tinham um relacionamento amigável e cordial. Boettcher e Nivanor tornaram-se mais próximos entre si, principalmente por serem pilotos oficiais da Yamaha.

Nessa época, Boettcher já pensava em correr de cross na Europa. A conquista do Campeonato Latino-Americano de 1976 deu-lhe a certeza de que o momento havia chegado. No ano seguinte, comprou duas Yamaha 125 e estabeleceu-se na Holanda, aproveitando a experiência prévia do conterrâneo Edmar Ferreira no Mundial de Motovelocidade. Como Edmar, contou com os serviços do preparador Ferry Swaep para disputar a temporada de 1977 do Mundial de Cross 125. “Havia provas com 80 a 100 inscritos e largavam 40 pilotos”, conta. “Sempre me classifiquei entre os 20 primeiros. Para mim, que estava estreando no Mundial, isso já era ótimo, porque nessa época havia uns 15 pilotos de fábrica. Consegui uma vez um nono lugar e em outra um 11º, que foram meus melhores resultados.”

Não era apenas nas pistas que Boettcher enfrentava uma realidade completamente diferente. “Em Goiás, eu corri muitas vezes sob calor de 40 graus. Na Europa, quase sempre chovia e fazia muito frio!”, conta. “Outra dificuldade era a comunicação. Quando terminava uma corrida, eu procurava uma cabine ou empresa telefônica para ligar para o Brasil. Isso às vezes demorava horas, além de ser muito caro. Meu pai, muitas vezes, esperou até de noite para falar comigo e, depois, passar as notícias para a imprensa”, recorda. Durante a temporada, Boettcher estabeleceu um bom relacionamento com o belga Gaston Rahier, campeão mundial de cross 125 em 1975, 1976 e 1977 e vencedor do Rali Paris-Dakar em 1984 e 1985. “Ele me apresentou o empresário dele e passei a ganhar um prêmio de largada que variava entre 800 e 1.000 dólares. Não cobria os custos, mas já era um alívio nas finanças.”

No ano seguinte, Boettcher preferiu voltar a correr no Brasil. “Eu até poderia tentar de novo, mas precisaria de um patrocínio maior para evoluir no Mundial. Eu teria que ficar uns três anos na Europa para colher resultados. O fim da participação no Mundial, entretanto, não deixou nenhuma mágoa em Boettcher. “Pelo contrário! Tenho orgulho de ter sido o primeiro brasileiro a ter corrido lá. Aprendi muito e foi bastante útil para correr no Brasil depois.”

Em 1979, Boettcher passou três meses treinando nos Estados Unidos, onde o motocross sempre foi muito desenvolvido. O esforço deu resultado: foi campeão brasileiro e latino-americano na categoria 125. Os três anos seguintes, justamente aqueles em que a popularidade do motocross aumentou enormemente no Brasil, foram de poucas conquistas, entre outras razões devido a uma cirurgia de extração do baço.

No final de 1982, Boettcher já havia voltado à sua melhor forma, mas no final do ano a Yamaha deixou o motociclismo nacional. O ano de 1983 seria de poucas corridas para o goiano. Mas ele deixou sua marca com o desenvolvimento da Yamaha MX 180, uma moto de cross desenvolvida a partir da DT 180. A MX foi concebida para as corridas de cross com motos nacionais de rua feitas para enduro, caso da DT 180. “A MX foi praticamente um projeto meu. E me deu muito orgulho, porque era realmente competitiva contra as Honda XL 250”, diz. Essas provas cresceram, principalmente, devido às inúmeras restrições às importações existentes na época. Motos de cross, feitas especialmente para a modalidade, podiam ser importadas pelas federações esportivas, mas poucas se atreveram (ou tiveram boa vontade) para enfrentar a burocracia necessária. “A gente fazia milagre para ter motos novas no Brasil. Equipamentos como botas e capacetes também eram dificílimos de conseguir. Tinha que ir para fora e comprar, e nem todo mundo podia fazer isso”, recorda.

A MX 180 Poderia ter dado mais um título a Boettcher. Em 1984, ele liderava o Hollywood Motocross, então o mais importante torneio para motos nacionais, quando sofreu um tombo e quebrou o escafóide. Voltou às pistas em 1985 e fez suas últimas corridas como profissional em 1986, sempre pilotando motos Yamaha.

Nos três anos seguintes, Boettcher continuou correndo no Centro-Oeste, apenas “por prazer”. Sua prioridade profissional passara a ser a administração das concessionárias Yamaha de sua família. Parou de vez com o cross em 1989, ser alvejado por uma lata de cerveja durante uma corrida. “Fiquei inconformado com aquilo. Ganhei a corrida, fui para o pódio e parei de correr.” Hoje, falando como presidente da FMG, Boettcher garante: “Como ‘cartola’, quero ter uma trajetória tão produtiva quanto a de piloto. Quero fazer a motovelocidade ter 150 pilotos por etapa. Há potencial para isto, basta trabalhar direito”, acredita.

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